Quero contar a história da D. Maria, uma mulher franzina, meiga, sorridente, muito agradável que conheci no hospital, estava no mesmo quarto que minha mãe. Há 12 anos ela lutava contra um câncer que se inicíou no seio e metastizou para os ossos.
Dona Maria tinha uma única filha que estava na Espanha e um netinho de meses que não conhecia. Tinha também um ex-marido que durante todo o tempo em que estive lá, foi uma única vez visitá-la. Toda tarde, ela olhava pela janela com um olhar tão triste e distante que eu não podia alcançar... ela cantava hinos, e dizia que sonhava estar cantando num coral. Ela contava piadas e tornava o quarto uma varanda de histórias e músicas...No dia em que cheguei lá...a vi pela primeira vez, nunca vou esquecer o olhar envergonhado que ela lançou pra mim..não entendi porque! Será que a olhei de forma estranha? Com aquela cara que fazemos quando nos deparamos com realidades que não gostamos...me senti muito mal.
Aos poucos fiz amizade com ela, eu orava com ela... e aos poucos ela foi sorrindo mais, me chamando de Sandrinha..do jeitinho mineiro dela!! Um dia, minha mãe teve vontade de comer rocambole de uma padaria que conhecemos, levei um pedaço pra D. Maria também, ela me disse que eu não sabia com que gosto estava comendo aquele doce...vi a alegria no rosto dela, pensei: tão pouco isso que eu fiz, mas pra ela foi tão especial!
No último dia, ela acordou indisposta, não queria comer, falou que estava com saudade da filha, (que só conheci por nome) e que não queria se sentar naquele dia. Mas depois de uma insistência do enfermeiro tomou banho, se sentou e tentou almoçar..dei umas colheradas pra ela, mas não queria mais...perguntei se queria que eu penteasse seu cabelo, ela quis...penteei. Nesse dia vim pra casa à noite, minha irmã que ficou no hospital a ajudou a se deitar e comer um pouquinho.
Quando voltei de manhã a cama dela estava vazia...simples assim! Não deu tempo da filha chegar da Espanha, nem sei se chegaria mesmo...mas o importante, foi que Deus me ensinou que Ele não desampara os seus...a alegria daquela mulher me afirmou isso. Deus nos tem na palma de suas mãos, e Nele estamos seguros e firmes na promessa!
E naquele lugar onde não existirão mais lágrimas, estaremos felizes como quem come rocambole...junto àqueles que amamos...eu e minha mãe de novo! Junto a Jesus! Finalmente, felizes!
"Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti." Isaias 49:15